Uma paixão que movimenta milhões de pessoas, o desporto e a sociedade andam sempre juntos. Seja pela presença de atletas das mais variadas origens ou pelos adeptos que veem ali uma forma de se expressar, o fenômeno do desporto é fundamental para se conhecer uma cultura.
A final da Taça de Portugal de 1969 representa a força do desporto no campo da política em relação a sua capacidade de movimentar as massas, quando o jogo entre o Benfica e a Associação Académica de Coimbra, no auge da crise académica de 69, foi utilizado como ferramenta de protesto dos estudantes contra o Estado Novo.
Protestos dos estudantes nas bancadas durante a final da Taça de Portugal de 1969
Regimes autoritários tendem a investir no desporto como uma ferramenta de autopromoção. Um exemplo disso é o uso da seleção brasileira de futebol em 1970, a maior equipa de sua história, como forma de propaganda da ditadura militar presente no país.
O Estado Novo seguiu um caminho contrário: por meio da então Direção-Geral de Educação Física, Desporto e Saúde Escolar (DGEFDSE), o regime sufocava o desporto de massas em Portugal, proibindo a profissionalização dos atletas.
O desporto não ia na linha da teórica moralidade defendida pelo regime de Salazar, que idealizava na prática apenas um “cenário amador, ao serviço da nação e do cultivo do corpo e da mente”.
Em 1960, devido a força do desporto, foi alcançada a profissionalização de três modalidades: o futebol, o boxe e o ciclismo. O historiador Ricardo Sarrado atribui esse movimento, principalmente na parte do futebol, à força da modalidade em movimentar pessoas e capital, tornando-se um corpo vivo e independente da vontade do regime por trás.
O Benfica de Eusébio, o maior futebolista português da época, alcançando o sucesso continental na década de 60
Foi após a Revolução dos Cravos que ocorreu a democratização do desporto em Portugal, com a “abertura da prática desportiva” a toda a população, o respeito pelo livre associativismo, o aumento de competitividade em competições internacionais, bem como “a melhoria da qualificação dos quadros técnicos que envolvem o movimento desportivo”, de acordo com José Manuel Constantino, presidente do COP (Comitê Olímpico Português).
“Não tenho dúvidas de que é a maior data do nosso país, foi a libertação e a emancipação de um povo, foi a libertação do fascismo. Do ponto de vista do desporto, o 25 de Abril promoveu a democratização do desporto no país, foi possível criar instituições e coletividades, permitindo cultivar as diferentes modalidades que surgiram com grande força, foi um grande passo para milhares de pessoas. Houve uma democratização do desporto, já que uma elite deixou de ter o controlo, houve uma maior abertura, maior liberdade”