A criação e cuidado fazem parte da obrigação de todos, existindo um dito popular em diversas comunidades africanas: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” (Ximenes, 2022), inferindo este como o redor também educa, a escola, as amizades, a família externa ao núcleo central, etc.
“(…) seriam instituídas creches, jardins de infância, escolas, cozinhas coletivas (…), lavanderias, serviços de Limpeza, enfermarias e hospitais. A proteção social das crianças não excluiria a participação dos pais na educação dos filhos, sendo incentivada sua participação nas juntas escolares e nas demais instituições de ensino. Além disso, na medida em que a sociedade se responsabilizasse por propiciar todas as condições necessárias ao desenvolvimento mental, físico e psicológico das crianças – incluindo habitação, saúde, educação, arte, lazer, pais e filhos gozariam de mais tempo livre para o convívio e estabelecimento de uma relação de afeto e respeito.” (RBCP, 2015).
A mãe é integral na relação mãe-criança, mas a função da criação corresponde ao coletivo. A mãe não deveria esquecer-se de si em prol de uma jornada tripla de trabalho (profissional, trabalho de casa, trabalho do cuidado), pois a ela urge também a preservação da sua vida social, como conviver com as suas amizades; da sua vida artística, como poder ter tempo para desfrutar de uma obra cinematográfica, desenhar ou apreciar uma poesia; e qualquer outra atividade essencial à sua felicidade e vida digna.
A mulher na futura sociedade é social e economicamente independente; ela não é mais submetida a nenhum vestígio de dominação e exploração; é livre, à semelhança do homem, senhora de seu destino. […] Vivendo sob condições naturais, ela é capaz de desenvolver e exercitar suas faculdades e potencialidades mentais. Ela escolhe sua ocupação no campo que corresponder a seus desejos, inclinações e habilidades naturais, e trabalha em condições idênticas ao homem.” (Bebel, 1923).
Os processos de externalização do trabalho doméstico, nomeadamente através do recurso a apoio doméstico profissionalizado” (Perista, 2002) impedem ainda a perda de autonomia financeira, que consequentemente vira o domínio do marido sob a esposa. A perfeita prova do entrave à libertação e emancipação da mulher, que é criada pelo sistema capitalista que se alia ao sistema patriarcal.
Neste sentido, a luta anticapitalista terá indubitavelmente de abolir o patriarcado, incapaz de sobreviver isolado, já que a base material da submissão da mulher ao homem seria também minada. É preciso, por isso, transformar a realidade para uma nova sociabilidade justa às condições de trabalho sobre o cuidado.
FONTES:
REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIA POLÍTICA, O FEMINISMO MARXISTA E A DEMANDA PELA SOCIALIZAÇÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO E DO CUIDADO COM AS CRIANÇAS
MAYTÊ XIMENES, 2022, “É PRECISO UMA ALDEIA INTEIRA PARA EDUCAR UMA CRIANÇA
HELOÍSA PERISTA, 2002, GÉNERO E TRABALHO NÃO PAGO: OS TEMPOS DAS MULHERES E OS TEMPOS DOS HOMENS