Sete dias com os media é muito tempo. Sempre foi muito tempo, mas hoje em dia é ainda mais. Perspetiva-se entretenimento esporádico acompanhado de ícones reluzentes que agarram qualquer fascinado por interações sociais, porém são 168 horas de manipulação de contextos e adaptação constante para um prisma de imagem ideal a seguir. Este é o lado obscuro da Internet – conexões ténues e subvalorizadas entre utilizadores, e, segundo o priberam, um utilizador é alguém que “faz uso do computador, de programas, sistemas ou serviços informáticos”. Tudo bem, é uma visão, mas para mim é uma “despessoa”. O que é que faz de nós pessoas na verdade? Será a nossa componente carnal? A possibilidade de motivar o outro seja para o que for através de emoções (intocáveis), mas por outro lado credíveis por serem genuínas e autênticas? Ou então a simples possibilidade de comunicar? É que se for a última, em rede somos pessoas, e não utilizadores. Utilizar implica um intermediário, e por mais que me dê jeito, não quero depender sempre de uma coisa estranha e extremamente complexa para me expressar sob o outro e o conhecer de forma pura, ou até mesmo aprender o desconhecido. De pouco vale pisar um campo fértil, à mão de semear, sendo este cultivado com discursos de ódio e opressão sem qualquer consequência a medir. Sinceramente, também já ninguém consegue bem pisotear o que foi germinado… vejo árvores grandes, sem folhas, só troncos.
Na unidade curricular Jornalismo Multiplataforma do curso Jornalismo e Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), foi proposto pela respetiva docente que os alunos trabalhassem num perfil de Instagram, entre os dias 3 e 9 de maio, para sensibilizar a comunidade sobre “o ódio e a violência online, promovendo a prevenção e o combate”. Storytelling’s diários durante a semana foi o que a página “cicatrizes_incuráveis7” se dispôs a realizar, abordando as temáticas descritas de forma livre e sem escrúpulos, porém de caráter elucidativo.
A era digital trouxe inovações deslumbrantes e uma conectividade de teor ilimitado. No entanto, sob a superfície brilhante dos media, esconde-se uma face sombria. O ódio, a desinformação, o cyberbullying e a toxicidade nas redes sociais são problemas graves que afetam diariamente milhões de pessoas, e não utilizadores. Trata-se de uma ferramenta poderosa que une indivíduos ao redor do mundo, mas repleta de comentários ofensivos, ameaças e discursos opressores que se proliferam nas plataformas digitais. Este ambiente hostil pode levar a consequências devastadoras, incluindo problemas de saúde mental e, em casos extremos, ao suicídio. A desinformação é um problema crítico na era digital, pois com a facilidade de partilha de informações, notícias falsas podem-se espalhar rapidamente, influenciando opiniões e comportamentos de maneira perigosa. Desde teorias da conspiração até à manipulação de factos em contextos políticos, a desinformação mina a confiança do público nos media e dificulta a distinção entre factos e ficção. Além disso, os algoritmos das redes sociais promovem conteúdos que geram maior engagement e que acabam por perpetuar um ciclo vicioso de desinformação. A sociedade deve adotar uma postura mais empática e responsável no uso das redes sociais, dado que todos nós temos um papel a desempenhar na criação de um ambiente digital mais saudável e inclusivo. A tecnologia é uma ferramenta bastante fortificada que pode ser usada para o bem ou para o mal, cabe-nos a nós decidir como moldar essa realidade.
O digital sempre foi uma faca de dois gumes. É sobretudo em prol da consciência e da humanização desta fase que nos deveríamos interessar com saber o que cada um sente, e não com a foto do prato e do restaurante caro que esboça apenas um resquício de um momento de interação real… talvez ainda entre pessoas. Eu não lido com utilizadores, lido com pessoas.