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SilĂȘncio cultural no Altar do Mundo

Ines ReisbyInes Reis
October 24, 2025
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Fåtima possui quantidade, qualidade e variedade a nível artístico. No entanto, aos olhos de todos, até dos próprios habitantes, apenas tem um santuårio.

Fåtima foi, até ao século XIX, apenas uma pequena e pobre freguesia com pouca relevùncia no concelho. Hoje, recebe cerca de 6 milhÔes de visitantes por ano e é um dos maiores centros de peregrinação religiosa do mundo. Sob o olhar atento do catolicismo, esta cidade foi crescendo em todos os aspetos. Mas serå que esse desenvolvimento se verificou a nível de produção cultural?

Em qualquer manhĂŁ de um dia 13 de maio, o cenĂĄrio que se observa no centro de FĂĄtima, “cidade da paz”, Ă© de grande azĂĄfama. Os grupos de peregrinos exaustos, ainda com os coletes amarelo fluorescente vestidos, tentam chegar o mais depressa possĂ­vel para nĂŁo perder as primeiras comemoraçÔes. Os lojistas, embora atarefados, abordam todo o cliente que possa querer um terço, uma imagem ou um banquinho para assistir Ă  missa.

Empregados de mesa servem pequenos-almoços a todo o gås, para garantir que ninguém sai do estabelecimento sem comer qualquer coisa antes da celebração. Turistas estrangeiros tentam, confusos, encontrar o melhor local para ouvir o padre, que pregarå numa língua que desconhecem.

À medida que se aproximam as 11h da manhĂŁ, milhares de pessoas dirigem-se ao amplo recinto do SantuĂĄrio de FĂĄtima, que parece diminuir, quando a multidĂŁo torna impossĂ­vel vislumbrar o chĂŁo asfaltado. Ouve-se o sino e faz-se silĂȘncio, embora interrompido por uma ou outra criança que nĂŁo compreende o que se passa Ă  sua volta.

Agora, apenas Ă© percetĂ­vel o som suave do crepitar das velas, carregadas de promessas, que ardem discretamente na lateral esquerda do espaço. Veem-se umas pessoas emocionadas, outras apĂĄticas. Algumas vivem uma experiĂȘncia Ășnica na vida, outras sĂł mais um dia igual a qualquer domingo. A maioria permanece no recinto, ora distraĂ­da, ora atenta, durante toda a cerimĂłnia. AtĂ© que os acordes do “Adeus de FĂĄtima” anunciam o fim da missa.

De repente, o recinto transforma-se num frenesim de lenços brancos que se agitam em despedida à imagem de Nossa Senhora de Fåtima. Esta, envolta em rosas brancas, move-se ao longo do largo corredor central, sobre oito ombros fortes.

É este o cenĂĄrio a que se assiste naquele dia tĂŁo importante para os fiĂ©is, que tĂȘm ao seu dispor inĂșmeros espaços, distribuĂ­dos pela cidade, onde Ă© possĂ­vel conhecer melhor a histĂłria de FĂĄtima.

COMO TUDO COMEÇOU

Reza a lenda que, a 13 de maio de 1917, trĂȘs crianças, que pastoreavam na Cova da Iria, FĂĄtima, avistaram a Virgem Maria, em cima de uma azinheira, envolta na “mais brilhante” luz branca. A Santa transmitiu uma mensagem de paz e prometeu que voltaria mais cinco vezes no dia 13 de cada mĂȘs.

Apesar do ceticismo de muitos, a palavra foi-se espalhando e, a 13 de outubro de 1917, cerca de 70 mil pessoas deslocaram-se atĂ© Ă  Cova da Iria para testemunhar aquela que seria a Ășltima aparição. Os trĂȘs pastorinhos foram os Ășnicos a ver Maria, no entanto muitos dos presentes no local acreditam ter vivido o inesquecĂ­vel “Milagre do Sol”, descrito como um momento em que o sol apresentou vĂĄrias cores e pareceu tremer.

A partir deste dia, FĂĄtima deixou de ser um local insignificante e passou a despertar o interesse nĂŁo sĂł dos crentes, como tambĂ©m daqueles que queriam experienciar a mĂ­stica da cidade. De acordo com JosĂ© Poças, autor da obra FĂĄtima dos InĂ­cios do SĂ©culo XX – A freguesia de FĂĄtima (1900 -1917), o impacto inigualĂĄvel destas visĂ”es resultou do alinhar de dois principais fatores do contexto histĂłrico da Ă©poca.

Por um lado, a repercussĂŁo a nĂ­vel nacional deveu-se ao facto de esta histĂłria pĂŽr em causa o radicalismo republicano, caracterĂ­stico da Primeira RepĂșblica. Por outro lado, vivia-se, a nĂ­vel internacional, a Primeira Guerra Mundial, que conferiu uma relevĂąncia singular Ă  mensagem de paz que os pequenos pastores afirmaram ter ouvido de Maria.

ApĂłs o sucedido, FĂĄtima estava perante um crescimento para o qual nĂŁo se encontrava preparada. “O urbanismo foi caĂłtico durante os primeiros tempos”, explica o historiador. Acrescenta tambĂ©m que “sĂł durante o Estado Novo foi feita uma planificação, que permitiu um desenvolvimento mais ou menos correto”.

O autor lembra que se trata de uma cidade muito recente, com apenas 25 anos, e que, apesar de jĂĄ ter havido desenvolvimentos na urbanização, ainda hĂĄ “um sentido muito apurado de continuar a melhorar”. Criada devido Ă  sua função religiosa, a cidade de FĂĄtima ainda estĂĄ profundamente ligada ao catolicismo, sendo considerada, por muitos, o “Altar do Mundo”. Esta ligação leva a que, mesmo 106 anos depois das chamadas apariçÔes marianas, a religiĂŁo domine a produção artĂ­stica no local.

Observada pela lente dos turistas, a “cidade da paz” pode parecer um centro cultural dinĂąmico e movimentado, em que se aposta na valorização da arte, com exposiçÔes para visitar, espetĂĄculos para assistir e obras para admirar. Mas do ponto de vista dos artistas locais, a cidade nĂŁo corresponde exatamente a estas caracterĂ­sticas.

COMO SER ARTISTA EM FÁTIMA

Martinho Costa Ă© um artista, nascido e criado numa pequena aldeia da freguesia de FĂĄtima. ApĂłs terminar a licenciatura em Artes-PlĂĄsticas – Pintura, pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, permaneceu 22 anos na capital portuguesa a trabalhar. Abandonou a grande cidade e voltou para FĂĄtima, por estar “farto da confusĂŁo” e por acreditar que “se pode ser artista em qualquer sĂ­tio”.

Considera que o regresso Ă  aldeia onde cresceu sĂł foi possĂ­vel devido Ă  tecnologia, que permite fazer circular o trabalho para qualquer ponto do paĂ­s. O pintor esclarece: “antes os artistas tinham de sair, porque nĂŁo tinham aqui nada. Agora, a situação continua igual, mas Ă© possĂ­vel mandar o trabalho para fora”.

Martinho Costa considera que, a nĂ­vel artĂ­stico, “tudo o que se faz em FĂĄtima Ă© muito dominado pela religiĂŁo”. Esta opiniĂŁo e o facto de nĂŁo ser crente levam a que rejeite as poucas propostas de trabalho que recebe: “aceitar um trabalho puramente religioso Ă© estar ligado a uma mensagem que nĂŁo me interessa”.

A Vortice Dance Company (VDC) Ă© uma companhia de dança sediada em FĂĄtima, com trabalho apresentado em 33 paĂ­ses. Os fundadores e coreĂłgrafos, ClĂĄudia Martins e Rafael Carriço, jĂĄ foram reconhecidos com alguns prĂ©mios internacionais de prestĂ­gio, tais como o UNESCO Grand Prix of Choreography, entregue em 2001 pela Presidente da RepĂșblica da FinlĂąndia, em HelsĂ­nquia.

Tal como Martinho Costa, ClĂĄudia Martins tambĂ©m tem a sua base de criação em FĂĄtima, mas trabalha sobretudo para fora, algo que considera possĂ­vel graças Ă s “ferramentas de comunicação que agilizam os processos”. Apesar de ser a partir de FĂĄtima que esboça e direciona os seus projetos, a coreĂłgrafa realça que “ingressar no meio de trabalho em cidades pequenas Ă© quase uma utopia”.

Para ClĂĄudia Martins, licenciada pela Escola Superior de Dança de Lisboa, “o produto artĂ­stico nĂŁo se esgota no seu local de apresentação”. É comum ver os fatimenses deslocar-se aos teatros mais prĂłximos para assistir Ă s produçÔes da VDC, jĂĄ que, muitas vezes, “o ‘produto final’ nĂŁo tem agendada uma apresentação” na sua cidade.

VALORIZAÇÃO DOS ARTISTAS

Os artistas consideram que não lhes é dado o apoio devido, especialmente se a sua arte não estiver relacionada com a história das apariçÔes de 1917.

Martinho Costa quer distanciar-se do “magnetismo da religiĂŁo”, o que o faz recusar as poucas propostas de trabalho que lhe sĂŁo apresentadas em FĂĄtima. A Ășnica obra que tem exposta na cidade Ă© um mural que, apesar de ter sido pedido no Ăąmbito do CentenĂĄrio das ApariçÔes, tem como foco o povo fatimense. O pintor revela que sĂł aceitou a ideia da Junta de Freguesia, porque “a abordagem nĂŁo era exclusivamente o CentenĂĄrio, mas sim as pessoas”, tema que lhe agradou. Por sua vez, ClĂĄudia Martins confessou, entre risos, jĂĄ ter tentado dinamizar projetos na cidade que nĂŁo foram aceites, algo que considera depender da “visĂŁo e abertura da pessoa a quem sĂŁo apresentados”.

Quanto a este tĂłpico, o presidente da Assembleia da Junta de Freguesia de FĂĄtima, JosĂ© Poças, nĂŁo tem dĂșvidas em afirmar que “a arte estĂĄ a ser tremendamente valorizada em FĂĄtima”. No entanto, considera que os habitantes nĂŁo tĂȘm noção da quantidade e variedade de produção artĂ­stica que existe na cidade, algo que se deve Ă  falta de infraestruturas. Neste sentido, JosĂ© Poças sublinha que “hĂĄ arte e artistas em quantidade, mas nĂŁo hĂĄ espaços prĂłprios para divulgar ao resto dos fatimenses aquilo que se faz em FĂĄtima”. Visto isto, o representante da Junta de Freguesia defende que, alĂ©m do SantuĂĄrio, deve ser criado um “um centro, com todas as valĂȘncias, para que se possa divulgar cultura,”.

Na opiniĂŁo de ClĂĄudia Martins, “institucionalmente, a VDC nunca foi valorizada como deveria e como Ă© fora de portas”. PorĂ©m, o presidente da Assembleia da Junta de Freguesia esclarece que “FĂĄtima dĂĄ o devido valor, sĂł que nĂŁo tem dinheiro suficiente para fazer esse tipo de espetĂĄculos”. JosĂ© Poças lembra que FĂĄtima Ă© uma “simples freguesia” e, por isso, nĂŁo tem o orçamento, que, por exemplo, um concelho tem, para dinamizar eventos culturais.

UMA CIDADE ATÍPICA

Martinho Costa sĂł se apercebeu, ao viver em Lisboa, de que vinha de “um sĂ­tio um bocadinho peculiar”. JĂĄ ClĂĄudia Martins refere-se a FĂĄtima como uma “cidade com caracterĂ­sticas diferentes da maioria”. JosĂ© Poças destaca que a organização urbanĂ­stica Ă© o que mais a distingue: “quando nĂłs pensamos numa cidade qualquer, o espaço central Ă© um espaço civil, quando nĂłs pensamos em FĂĄtima, esse espaço Ă© o SantuĂĄrio”.

É unĂąnime que FĂĄtima Ă© uma cidade distinta de todas as outras. Quem viveu toda a vida no “Altar do Mundo” nĂŁo tem conhecimento de que ainda hĂĄ muita cultura local por explorar. Ainda assim, os principais espaços culturais existentes continuam a enaltecer uma histĂłria que os habitantes jĂĄ sabem de cor, e nĂŁo a arte que Ă© produzida, diariamente, ali mesmo.

Gabriel Marques
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