O colonialismo é um sistema de exploração de populações e recursos, caracterizado pelas relações de dominação baseadas na ideia de inferioridade racial ou étnico-cultural do colonizado. A colonização resultou em situações de violência extrema, incluindo genocídio e epistemicídio. O imperialismo, conceito relacionado, refere-se aos mecanismos pelos quais uma potência exerce poder sobre outra, seja pela imposição da soberania, povoamento ou controle indireto (Centro de Estudos Sociais, 2025). Portanto, a descolonização não pode ser vista como um evento ultrapassado, mas como um processo contínuo que ainda carrega marcas profundas na história de Portugal e dos territórios que estiveram sob seu domínio, como o Brasil e Cabo Verde. A superação dessa ferida ainda aberta exige o enfrentamento dos desafios contemporâneos ligados à memória colonial, ao racismo estrutural e às desigualdades sociais que são evidentes ainda hoje.
O discurso feito por Spínola (1974) – “o momento de reconhecer às populações dos nossos territórios ultramarinos o direito de tomarem em suas mãos os próprios destinos, concretizando-se desse modo, o desenvolvimento da política de autenticidade que sempre defendemos” (General António de Spínola – 27 de julho de 1974) – reflete um avanço fundamental tanto na política quanto na história de Portugal e dos territórios colonizados. No entanto, a desigualdade racial e a marginalização das populações oriundas de ex-colônias em Portugal sugerem que a descolonização mental ainda está presente. Nesse contexto, os objetivos da Revolução dos Cravos foram parcialmente alcançados. Por um lado, livres na geografia, mas presos por estereótipos e opressão social.
Mas, afinal, qual é o futuro desse passado? A resposta não é simples ou segue um percurso linear. Portugal tem demonstrado certa relutância em confrontar sua história colonial de maneira aberta e crítica, como argumenta Almeida (2018). O processo de descolonização vai além da simples retirada de Portugal de suas ex-colônias; ela pede uma transformação nos discursos eurocêntricos que ainda influenciam a sociedade portuguesa. A antropóloga muçulmana Faranaz Keshavjee também destaca a falta de pluralidade na docência, afirmando que a universidade ainda “é muito branca”. Sua chegada ao ISCTE exemplifica um passo na direção da “descolonização do conhecimento”, pois representa “a integração de alguém que vem de uma formação que é para lá do pensamento ocidental” (Keshavjee, 2017). Nesse sentido, a falta de debate, ensino nas escolas ou a idealização do período colonial enfatizam que o país ainda não deixou essa parte da história no passado ou, ainda pior, uma falta de consciência do papel de Portugal na colonização, como sugere Araújo (2012): “às injustiças evidentes nos currículos oficiais, que frequentemente apresentam uma visão parcial e obscurecem as violências da escravidão, do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas e do colonialismo português”. Somam-se a isso iniciativas e programas isolados de educação multicultural que acabam por reproduzir formas de racismo institucional.
Na contemporaneidade, descolonizar, democratizar e desenvolver significa repensar a história não a partir de uma narrativa lusófona, mas a partir dos olhares e vozes das ex-colônias. Descolonizar significa garantir que essas comunidades tenham acesso aos direitos e à representatividade política e social, e oportunidades reais de participação na construção de narrativas que contemplem a diversidade e a complexidade de suas identidades.