CUMN tem como objetivo ser casa, comunidade e santuário para os estudantes. Instituto Universitário Justiça e Paz foca-se também na espiritualidade dos universitários.
No coração da “cidade dos estudantes” encontram-se duas instituições que são uma segunda casa para muitos estudantes universitários. Estou a falar do Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN), junto ao Jardim da Sereia, e o Instituto Universitário Justiça e Paz (IUJP), nas imediações do Polo I da Universidade de Coimbra.
Estes são espaços com uma identidade católica, mas abertos a todos os que os queiram frequentar. Abertos desde a década de 70 do século passado, inúmeros estudantes, e não só, já passaram nestas casas.
O surgimento do CUMN
João Manuel é o atual diretor do CUMN, cargo que ocupa desde o ano letivo de 2021/2022. É padre jesuíta, ordem que fundou esta instituição. Para o Diretor, os moldes do CUMN assemelha-se muito à identidade dos jesuítas, uma ordem que preza por estar próxima das pessoas.
Fundado em 1975 por um grupo de três jesuítas, numa altura que a igreja era muito tradicional, o CUMN veio romper com o paradigma que era esperado da Igreja Católica. João Manuel conta que este projeto “surgiu da necessidade de uma comunidade mais informal, para acompanhar espiritualmente e culturalmente os estudantes universitários, assim como abrir os seus horizontes”.
O atual diretor fala do CUMN como algo “disruptivo, tendo em conta o âmbito católico, e diferente do que as pessoas estavam habituadas a ver na igreja”. O CUMN nasceu como “um sítio de formação humana, onde não se pergunta sobre religião para acolher, porque havia gente que vinha só para estudar, como ainda acontece”. Uma das salas de estudo está presente na Biblioteca do CUMN.
Nos últimos 10 anos este espaço estabeleceu-se na rua Almeida Garret, mas desde a sua criação que este já passou por vários locais. A sua primeira casa localizava-se na rua Couraça de Lisboa, curiosamente, perto do Instituto Universitário Justiça e Paz. De seguida mudou-se para a zona da escola José Falcão, até se instalar definitivamente na sua morada atual.
Em relação ao funcionamento, o jesuíta explica que “todos os anos há um grupo de animadores, composto por 12 universitários, que ajudam a pensar o programa e que dinamizam a casa”. Inseridos neste grupo estão Tiago Resende, de 23 anos, e Guilherme Balhau, de 22 anos, estudantes de Medicina e de História, respetivamente.
Tiago Resende ouviu falar do CUMN durante o seu primeiro ano de Faculdade na Missão País, um projeto católico de voluntariado universitário. Apesar disso, só “no final do segundo ano, início do terceiro” é que foi lá pela primeira vez, tornando-se um hábito que tem até hoje. Pertence a um dos grupos da casa, onde entrou há três anos, o CBX-U, um grupo de partilha quinzenal. O animador considera que este grupo “é uma excelente oportunidade para as pessoas que não estão tão dentro da casa de conhecer pessoas”.
Por outro lado, Guilherme Balhau já conhecia este Centro desde o ensino básico, visto que frequentou o Colégio da Imaculada Conceição (CAIC), pertencente aos jesuítas. Frequentar o CUMN para este animador foi “um processo de continuidade do que estava habituado”, algo que achava que ia perder na universidade”.
À semelhança de Tiago, também ele anda num grupo de CBX-U, apesar de não ser o mesmo do seu colega animador. Todos os anos é criado um grupo com alguns elementos, que continuam a se reunir sempre com os mesmos membros nos anos seguintes. Além disso, participa e já frequentou “atelieres bíblicos, grupos de política e um grupo de textos fundamentais da Bíblia”.
Além da missa diária, com especial foco na missa de quarta-feira, visto que é uma missa focada nos universitários, “com um ambiente mais informal”, são dinamizadas diversas atividades, desde serões variados a grupos de partilha e de voluntariado. Dentro dos vários grupos da casa estão presentes o “CBX-U, grupo de partilha, FAZ+, onde se pode fazer voluntariado, Fratelli Tutti, grupo de debate e formação cívica, e o Coro, que animam as missas de quarta-feira”. São realizadas também algumas peregrinações e retiros ao longo do ano.
O Instituto Universitário Justiça e Paz
Assim como o CUMN, o Justiça e Paz também tem um padre como diretor. O padre Filipe Diniz assumiu esse cargo há alguns meses, em meados de outubro. O diretor conta que a história desta instituição vem desde 1939, com a criação do “Centro Académico de Democracia Cristã”, no mesmo local onde, em 1971, foi criado o IUJP.
Este local pertence à Diocese de Coimbra, sendo lar de muitas instituições, nomeadamente de dois coros, o coro da Capela da Universidade e o coro D. Pedro Cristo. Assim como de grupos como o Serviço Pastoral do Ensino Superior (SPES) e o Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ).
Esta instituição abriga também um Fundo Solidário, o Fundo Next, que apoia estudantes com dificuldades. Além disso ajuda alguns estudantes universitários com “um espaço de alojamento para estudantes da Universidade”.
O padre Filipe Diniz fala também da existência de uma capela como “um espaço de oração e de paragem nos arredores do Polo I da Universidade de Coimbra”. Assim como de salas de estudo e a parte da Restauração, onde se pode aproveitar “as famosas varandas do Justiça, que tem uma panorâmica fantástica”.
Ricardo Brito, de 22 anos, estudante de História, frequenta o Justiça e Paz desde 2021, sendo presença assídua nas missas de quarta-feira do SPES. Elemento deste grupo o ano passado, o estudante continua a participar nas várias atividades realizadas por este organismo. Entre elas estão “jantares depois das missas, atividades de convívio e de procura interior”.
No entanto, não é só à quarta-feira que existe missa no IUJP, com o SDPJ a realizar a sua missa semanal às quintas-feiras. Catarina Jegundo, de 25 anos, ex-estudante de Arquitetura, faz parte deste grupo desde 2020, altura em que começou a frequentar o Justiça e Paz. Sítio que considera que, apesar da falta de divulgação, é muito frequentando. Catrina Jegundo diz que “as pessoas vêm cá lanchar, almoçar, estar na esplanada na varanda”. A ex-estudante explica que, “além das missas, ao longo do ano, são dinamizadas diversas atividades a nível diocesano”.
A importância destas instituições
Todos os entrevistados foram desafiados a definir a sua instituição com um sinónimo. A palavra “casa” foi a que mais se destacou, sendo referida por quatro dos seis entrevistados. Além disso, o CUMN foi definido por Guilherme Balhau como “um sítio para aprender a estar e viver num foco espiritual. Para Ricardo Brito o IUJP é também um local “de encontro, paz, serenidade e tranquilidade”.
João Manuel declara que o objetivo é que “o CUMN possa ser casa, comunidade e santuário, ou seja, um lugar onde se possa respirar da correria do dia-a-dia”. É um local onde se pode “estudar ou estar no terraço a conviver”, além de se poder vir à missa que existe durante a semana às 19 horas.
Tiago Resende acrescenta que para ele “o facto de eu o CUMN ser mesmo uma antiga casa, faz com que as pessoas tenham esse sentimento de estar em casa”. Apesar disso, esse aspeto tem também desvantagens para os dois animadores. Para Guilherme Balhau “é preciso dar uma ou duas oportunidades ou até mesmo integrar um grupo da casa, para se ver o real valor do CUMN”. Tiago Resende complementa esta ideia ao referir que “ao início existe um sentimento de se ser intruso, visto que a maioria das pessoas já se conhece”.
Em relação ao Justiça e Paz, o padre Filipe Diniz refere “o foco na cultura e da espiritualidade dos estudantes” como objetivos desta casa. Ricardo Brito reforça essa ideia ao indicar este local como “um espaço para se estar mais centrado em sí e mais centrado numa descoberta interior”.
Catarina Jegundo deixa o desafio a todos os estudantes de “procurarem um pouco mais o que se passa à volta deles fora da Universidade”. O diretor do CUMN faz também o convite a quem quiser visitar este edifício, garantido que “serão bem-vindos”.