Descolonizar hoje, pode bem passar por, ao fim de décadas, deixar de pensar como colonizador. Enquanto portugueses passará por duvidar, questionar e ouvir. Duvidar daquela história que nos foi contada do país que deu novos mundos ao mundo – que mundo?! – duvidar sobre as bem feitorias da colonização, duvidar do Portugal como primeiro país a abolir a escravatura, questionar o que seriam África, Ásia ou América do Sul sem colonização, questionar porque chamam guerras de libertação ao que insistimos em chamar de guerra colonial, ouvir e perceber os que falam em pedidos de desculpa, reparação ou devolução.
Olhando para um mundo, racista, em pleno século XXI, enquanto portugueses, antigos colonizadores, não podemos desconsiderar de forma alguma o peso que a escravização de um continente inteiro teve e tem até hoje. Não será, porventura, essa a principal razão de um mundo tão desigual e racista?
Talvez, se formos mais humanos, se repararmos no outro, se conhecermos por exemplo, Angola, Moçambique, Brasil, pelos olhos de um angolano, moçambicano ou brasileiro, esse simples facto, possa ser um ponto de partida para uma descolonização mental, para deixarmos de ver o mundo da ótica dos heróis do mar, ou pelo menos passar a vê-lo como um herói do mar que se orgulha do desenvolvimento de instrumentos de navegação ou por dobrar cabos, mas pensa algumas vezes antes de falar em Descobrimentos.