“Ainda somos poucos, já fomos menos, mas ainda podemos ser muitos mais.”
Voluntariado, uma palavra que ouvimos desde pequenos e que desde muito cedo recebemos as linhas guia dos caminhos certos para voluntariado como algo que é bom e que tem o seu nível de importância na sociedade. Embora o número de jovens a realizar voluntariado seja baixo, ainda existem alguns que se dedicam semanalmente a ajudar comunidades ou causas que necessitam de apoio. Por isso, estive à conversa com três jovens de 19 anos que contam um pouco mais das suas experiências nesta área e os benefícios de praticar voluntariado sendo jovem.
As experiências individuais no voluntariado
Maria Marques, enquanto segurava num lápis e inclinava-se sobre a sua folha A1, concentrada para acabar um projeto da cadeira do curso de arquitetura, contou-me a sua experiência com o voluntariado. Maria começou desde muito nova a ir com a mãe ajudar numa sala de apoio. Auxiliava a realizar trabalhos de casa para miúdos que não têm possibilidades de pagar explicações. Praticou voluntariado desde os seus 13 até aos 15 anos de idade, sempre na mesma sala de apoio ao estudo em Oliveira de Azeméis, que está ligada à Instituição Teresiana. A estudante de arquitetura explica que as crianças e jovens que vão semanalmente ao apoio são sinalizados pelos Vicentinos de Oliveira de Azeméis que, por estarem em contacto com famílias com dificuldades económicas do concelho, conseguem espalhar a palavra da existência do apoio para ajudar os que mais precisam. Contudo, com a entrada para a universidade viu-se obrigada a deixar de ir pois, o apoio realiza-se aos dias da semana, dias em que está por Coimbra.
Carlos Simões desde pequeno participou em atividades relacionadas com o voluntariado, entre elas a recolha de bens em supermercados com o Banco Alimentar. Contudo foi em setembro de 2022 que obteve uma maior experiência no que toca a esta atividade de ajudar os outros. Carlos, por influência dos seus amigos aceitou participar num projeto, e em tom de honestidade revela que não sabia no que se estava a meter e atirou-se um pouco de cabeça. Participou durante uma semana com a Academia Da Área Metropolitana do Porto, um projeto em que consistia durante uma semana realizarem deferentes tipos de voluntariado em várias cidades passando por Gaia, Complexo Desportivo da Maia, Matosinhos, Vila do Conde e a cidade do Porto. Ao longo da semana, conseguiu participar em diversas experiências, entre elas apoiar dois canis. No complexo desportivo ajudaram nas limpezas e na organização das crianças que participavam nas férias desportivas, limpeza da praia, algumas horas no banco alimentar a fazer cabazes. Para além disso, participou na defesa florestal, ajudou a colocar à tona uma cidade romana e passou uma manhã em contacto com alguns mendigos da cidade em reabilitação.
O jovem oliveirense, desde cedo mostrou interesse por animais, e por isso quando entrou para o curso de medicina veterinária inscreveu-se num voluntariado em que está diariamente com os cavalos no hospital veterinário. Sempre teve um fascínio pelo animal e viu uma oportunidade perfeita para se ambientar. Revelou ainda que também era uma boa ocasião, sendo ele caloiro, de estar em contacto com os animais e ambientar-se ao ambiente do hospital.
Maria Silva, a minha terceira entrevistada, estuda psicologia e viu a entrada para a universidade como a oportunidade perfeita para começar a fazer mais voluntariado. Embora já tenha realizado algumas atividades de ajuda para com o outro enquanto estava na catequese, foi a partir de setembro de 2023 que se dedicou a corpo e alma a uma causa tão bonita. É com a associação VOU que se inscreve para fazer voluntariado nos cuidados paliativos no Hospital de Santo António, durante uma hora por semana está com um doente e conversa e ouve as histórias que têm para contar, lê livros para os mesmos e aos que ainda conseguem caminhar ajuda-os a darem uma volta pelo hospital. Em meados de fevereiro inscreveu-se no voluntariado no IPO do Porto, mais precisamente na ala do cancro pediátrico. Tem como principal função brincar com as crianças que estão na sala de espera e nos internamentos. Desde março decidiu arriscar num terceiro voluntariado, o projeto da FAP no bairro. Maria Silva explica “estou com adolescentes que vivem num bairro social no Porto e aquilo é uma espécie de ATL mas não pagam nada e estamos lá a ajuda-los nos trabalhos de casa, fazer atividades, interagir com eles e para terem um espaço onde podem estar todos juntos sem qualquer custo”.
Jovens no Voluntariado
O envolvimento de jovens no voluntariado é uma prática enriquecedora que traz benefícios tanto para a comunidade quanto para os próprios voluntários pois existem diversos impactos positivos na sua participação. Contudo, é preciso existir um maior interesse por parte dos mesmos para estas atividades.
Carlos explica ainda que, o voluntariado em jovem é uma grande ferramenta para se tornar uma pessoa melhor, pois, as experiências que temos enquanto jovens são o que nos molda a sermos quem somos no futuro. Ao estarmos em contacto com outras realidades obtemos uma visão clara do que precisamos fazer para melhorar.
Maria Marques, no entanto, clarifica que nem todas as pessoas têm personalidade para fazer voluntariado, pelo menos em determinadas áreas, pois é preciso existir um certo nível de paciência e ambiguidade para lidar com os desafios que são apresentados ao longo das atividades solidarias.
Maria Silva, em tom emotivo, apela aos jovens a inscreverem-se e ajudarem os que mais precisam. “Acho que ainda somos poucos, já fomos menos, mas ainda podemos ser muitos mais se os jovens virem no voluntariado uma oportunidade não só para crescerem eles, mas também ajudarem os outros a crescer.”
Gestão de tempo
Muitas vezes, a maior parte de nós utiliza a simples desculpa de não ter tempo para não fazer voluntariado. Uma desculpa válida quando existem razões válidas. Maria Silva, que das três fontes é a que se integra num maior número de voluntariado, esclarece como realiza esta gestão de tempo. “Saber gerir as prioridades, no meu caso, olho para o voluntariado não como obrigação ou um sítio que tenho de ir todas as semanas, é como um hobby”, esclarece Maria Silva. A chave para gerir o tempo é definir prioridades, por vezes, em vez de chegar a casa e ver uma série ou estar nas redes sociais, Maria prefere “gastar” o seu tempo a dar de si aos outros.
Com a carga horária elevada, os estudantes sentem-se cada vez mais pressionados a focarem-se nas notas, e outras atividades, como o voluntariado, acabam por ficar para trás.
Motivação para continuar
Por causa da questão de existir pouco tempo livre para os estudantes se dedicarem a outras atividades sem ser os estudos, é preciso terem em conta a sua motivação e o que não os faz desistir do voluntariado.
Carlos conta que queira se sentir proativo, conhecer melhor o mundo dos hospitais veterinários e adquirir mais competências para a sua área de estudo. Conseguir estar no hospital desde o seu primeiro ano da licenciatura e percorrer as alas onde se encontram os animais de maior porte, nomeadamente os cavalos, bem como os blocos operatórios e a sala de raio x onde todos os dias profissionais da sua área desempenham o seu papel.
Maria Silva explica que a sua motivação para realizar voluntariado está em si desde muito nova. Quando se viu no Porto não pensou duas vezes antes de arriscar e se inscrever em diversos voluntariados. “Sempre quis fazer parte deste grupo de voluntários porque sentia que tinha de fazer alguma coisa para melhorar o mundo, e por tanto vi nisto a minha oportunidade”. Para além disso, direciona os seus voluntariados para a sua área de estudo e por isso consegue desenvolver aptidões pessoais enquanto ajuda o próximo. Em tom de brincadeira, mas com um ar sincero, Maria clarifica que “uma pessoa acha que está a dar, mas recebe em dobro ou em tripo, portanto começou tudo para ajudar o próximo, mas eles agora não imaginam que são eles que me ajudam a mim e por isso é gosto tanto de fazer voluntariado”.