Patinhas e Patudos, uma associação sem fins lucrativos e que trabalha diariamente para fortalecer na sua comunidade os maus-tratos contra animais.
São as injustiças e o abandono que os animais sofrem que fazem a associação Patinhas e Patudos manter sua continuidade. Esta associação foi fundada em outubro de 2016 em Oliveira de Azeméis e permanece ativa e faz a diferença na comunidade abrangente até aos dias de hoje. É uma associação que trabalha voluntariamente para a defesa dos animais, bem como para a sua proteção e combate ao crescente abandono diário dos mesmos nas ruas.
Marisa Henriques está em contato com os Patinhas e Patudos já há dois anos, inicialmente estava como família de hospedagem temporária com a cadela Luz, que mais tarde acabou por a substituir. Porém, a partir de dezembro de 2023 começou a integrar-se mais ao fundo na associação, sendo que agora faz parte da equipe base. A decisão de se tornar membro do núcleo “foi quase uma evolução natural”, afirma que gosta de ajudar animais e já tinha alguma experiência nessa atividade, portanto, começou a acompanhar a associação em diversas atividades que foram dinamizadas e, eventualmente, foi convidada para integrar o equipamento.
Enquanto a entrevista se realizava, no veterinário em que a associação mantém uma parceria, dois dos três cãezinhos de Marisa Henriques encontraram-se a receber os cuidados que a clínica oferece. Um deles a fazer as suas análises e outro a tomar o seu banho.
Marisa afirma que a associação tem como missão principal ajudar os animais mais desprotegidos, que muitas vezes são abandonados ou que residem em casas com condições precárias. Não existe uma ordem específica para auxiliar, ajudando à medida que as necessidades vão aparecendo. “E infelizmente não temos capacidade de ajudar quanto desejamos, ajudamos uma pequena parte no universo de animais que estão neste momento a precisar de apoio”, conclui. Tentam focar-se, principalmente, no nível local para realizar todo o tipo de resgate e ajuda imediata de emergência.
Neste momento a associação tem no seu abrigo 28 cães e 1 gata acompanhada, dos seus 4 bebês com apenas 1 mês de vida. Os animais restantes estão em famílias de acolhimento temporário, no caso de 15 cães, onde apenas 13 podem ser adotados, pois, 2 desses animais têm problemas de saúde graves e precisam de um envio específico. No total, a associação está disponível para a adoção de 46 patudos.
As famílias de acolhimento temporário funcionam na medida em que os animais que se encontram em condições muito difíceis e fisicamente limitadas, como por exemplo a necessidade de cuidado hospitalar para se encontrarem com lesões, desativar um maior cuidado e precaução, e por isso, ficam com essas famílias. Claro que enquanto estiver ao encargo das mesmas, a associação faz um acompanhamento constante para se manter informado do estado de saúde do animal. A Patinhas e Patudos trazem alguns dados que nos ajudam a perceber a importância do seu trabalho, desde 2020 foram resgatados 616 animais e 278 patudos recebidos em um novo lar graças a esta instituição. Fazendo uma média, cerca de 154 animais são resgatados por ano (tendo em conta que os dados relativos correspondem a 4 anos, de 2020 a março de 2024), e segundo o Relatório anual do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) o número médio de resgates em Oliveira de Azeméis em 2021 foram de 129 e em 2022 de 102 animais. Com estes dados podemos então concluir que a associação faz um ótimo trabalho por estar sempre acima da média anual (os anos apresentados são apenas de 2021 e 2022 por serem os únicos com informação detalhada sobre o concelho de Oliveira de Azeméis).
Desde que a Marisa chegou, já se deparou com diversos casos preocupantes, desde animais que foram vítimas de acidentes rodoviários e que ficam com grandes sequelas em sua saúde, até com casos menos graves, mas mesmo assim importantes, como encontrar animais perdidos e, posteriormente , uma tentativa de encontrar o dono através de postagens nas redes sociais para evitar que a situação se repita, para além disso ajudar na esterilização dos mesmos. O membro da associação admite que “nem sempre ajuda é para animais em situação crítica, às vezes são situações que são por e simplesmente delicadas, ou, situações de risco que se nada forem feitas mais cedo ou mais tarde, esses animais vão passar a estar numa situação de emergência”. Portanto, o trabalho de prevenção também é importante para as Patinhas e Patudos.
A associação trabalha principalmente com cães, e estes chegam até eles de diversas formas. A forma mais frequente que a comunidade utiliza para entrar em contato é através de mensagens no Facebook ou ao ligar para o número que se encontra disponível no site. Existem pedidos mais banais, como por exemplo, algum animal está preso na varanda há dias e contactam para ver se é possível prestar ajuda, ou, casos mais caricatos, onde Marisa Henriques descreve em que uma vez ligaram porque uma gata localizada-se em cima de uma árvore já há quatro dias seguidos. “Inicialmente ninguém acreditou”, afirmou. Existem outros motivos para que os Patinhas e Patudos tenham ao seu encargo muitos animais, como por exemplo, casos em que as pessoas deixam de ter capacidades financeiras para manter os seus animais, e por isso, fazem esse pedido de ajuda ou, então, cães que tiveram algum episódio de agressividade e não pode regressar para junto de suas famílias.
A partir do momento em que os animais são encontrados, não há mais nenhuma opção de ficar no abrigo da associação. E enquanto fazem parte da Patinhas e Patudos são assegurados todo o tipo de condições, no caso de estar no abrigo, a alimentação, a água e a limpeza do espaço são sempre tidos em conta, bem como, em alguns casos, em que os cães precisam de algum cuidado no sentido de perceber se é preciso atenção médica. Depois existem os cuidados do dia a dia de todos os animais, como por exemplo uma atenção redobrada em cães que apresentam doenças crónicas, cardíacas, intestinais e renais que se vêm obrigados a ter de fazer uma alimentação específica. A associação disponibiliza também a todos os seus patudos um microchip, que desde 2008 é obrigatório em Portugal, a desparasitação e o controlo de vacinas.
Esta associação não tem como objetivo ficar com os cãezinhos e sim encontrar famílias que queiram proporcionar uma vida melhor aos mesmos. Por isso, a Patinhas e Patudos conta com um processo novo e detalhado para garantir que o animal seja entregue às pessoas certas. Marisa Henriques considera que “nem sempre é fácil até porque muitas pessoas que pretendem adotar um animal, nem sempre à primeira vista tem noção daquilo que representa efetivamente ter um animal em casa”. O membro do núcleo da associação, antes de começar a explicar o processo para a adoção, foi interrompido por uma senhora que aparece no veterinário, e a confirmação, pois esta em educação um gatinho na associação, este gatinho foi adotado quando ainda era muito novo e tinha um problema numa pata e que mais tarde teve de ser amputada.
Este processo de adoção, inicialmente inicia-se com o preenchimento de um questionário para se tentar avaliar as condições básicas da família, avaliar a existência de outros animais na casa, avaliar a unidade familiar pois é importante perceber se todo o seu seio familiar concorda em realizar um investimento de tempo com vontade para cuidar do animal que estará ao seu encargo. Este tipo de inquéritos é importante pois ficam a saber quais são as características principais da família, segundo Marisa Henriques, se por exemplo alguma pessoa mais idosa ou alguém que tem crianças em casa e que queiram especificamente animais muito energéticos, normalmente “desaconselhamos vivamente, sabemos que é um fator de risco” e apresentou outras soluções como por exemplo a adoção de um gato.
Passando então pela fase do questionário, a próxima etapa é um telefonema que é feito pela associação para esclarecer e tirar algumas dúvidas que eventualmente possam surgir. De seguida, é feita uma visita à casa do interessado para perceber alguns aspectos que podem influenciar a escolha do animal, a entrevistada esclarece que, se por exemplo, a casa em questão para um prédio sem elevador tem de garantir que vai ser um cão mais jovem e com energia. Depois de passar pelas 3 etapas iniciais segue-se uma fase de apresentação de vários cães, de acordo com os critérios anteriormente definidos, nesta fase todos os animais apresentados têm potencial para se poderem encaixar na família. Após a seleção e com a adoção concluída, a associação Patinhas e Patudos acompanha de forma muito próxima nos primeiros 3 meses, particularmente nos primeiros 3 dias estão muito presentes, “desde o primeiro impacto de adaptação”, afirma.
A associação para conseguir gerenciar os diferentes ramos em que participações voluntárias, para isso basta fornecer o número de telefone, inicialmente começa com pequenas ajudas como coleta de alimentos, ações de divulgação, ajuda em algumas funções no abrigo e participação em eventos. Eventos esses que são realizados com alguma regularidade como caminhadas e aulas de zumba solidárias onde o valor da inscrição reverte para a associação. As viagens têm como objetivo dar a conhecer às pessoas alguns cães que têm disponíveis para a adaptação, estabelecendo assim uma aproximação à comunidade e, como um dos objetivos a desmitificação do preconceito que existe a animais que pertencem a este tipo de instituições e que foram resgatados de situações extremas, “mas que no fundo só precisa de uma família”. A Patinhas e Patudos marcam a presença em alguns eventos dinamizados pela Câmara Municipal para se dar a conhecer e, como em todos os eventos, fazer o seu merchandising com a venda de algumas t-shirts, pines e tote bags, para a angariação de fundos, que também se encontra disponível no site. Para além disso, marca presença nas escolas de forma a promoverem campanhas de conscientização entre as mentes mais pequenas, mas também nas mais velhas, como o próximo evento deste género na Universidade de Aveiro. Normalmente, por serem eventos mais educativos só levam consigo um cão que aproveita para passar por um dia diferente fora do abrigo.
Visto que é uma associação sem fins lucrativos e que “vive exclusivamente da boa vontade das pessoas” confidenciou, todo o trabalho é realizado para a promoção de angariação de fundos e é de extrema importância. Muitas são as formas que as pessoas têm se quiserem realizar alguma doação, Marisa Henriques brinca “ninguém aqui é esquisito com donativos”. E têm razão, pois, a Patinhas e Patudos aceitam diversas formas de prestação de auxílio, como roupas em segunda mão que já não utilizam são recebidas e posteriormente vendidas num direto na página das redes sociais, onde o dinheiro remete na totalidade para a associação. Recebem donativos com bastante carga emocional, segundo a entrevistada, onde pessoas que perderam o seu animal doam os acessórios antigos que eram dele porque deixam a necessidade de precisar e “fazem gosto para ajudar alguém”. Para as pessoas que têm possibilidades de contribuir de forma econômica através de doações financeiras existe uma conta específica para isso, esses depósitos são muitas vezes realizados em eventos que a organização promove.
Existe ainda a possibilidade de quem quiser ajudar tornar-se sócio da associação e pagar cotas, ou então, apadrinhar um animal, onde faz uma transferência do valor da sua escolha para que um animal em específico possa beneficiar de um pouco mais de cuidado. Para além de receberem donativos de particulares contam com a cooperação de algumas empresas, como é o caso de supermercados que disponibilizam o seu negócio para o peditório que é feito por Patinhas e Patudos. Outra empresa que estabelece um acordo, é a clínica veterinária, a quem recorrem com bastante frequência, esta clínica estabelece para a associação uma tabela de preços especiais e uma maior flexibilidade no que toca ao pagamento das consultas. Marisa Henriques esclarece quanto aos fundos que as pessoas são livres para fazer o donativo da forma que preferem “São tantas as formas, e nem todas são óbvias, mas todas são bem-vindas”
Quando questionada sobre quais são as principais necessidades da associação obteve como resposta imediata: “Desesperadamente de adotantes, bons adotantes, boas famílias de acolhimento temporário que queiram amar os nossos animais, que queiram cuidar deles e dar uma família”. Acrescentou ainda que a alimentação e o dinheiro para pagar as várias despesas que são gastas nos veterinários bem como os medicamentos que os amigos de quatro patas precisam. Esclarece ainda que “passando para algo mais pequeno, precisamos de tudo aquilo que as pessoas queiram doar”.
Marisa Henriques revela ainda que a associação Patinhas e Patudos tem como objetivo a renovação futura do espaço do abrigo. A melhoria no abrigo é o mais urgente, segundo a mesma, por ser um espaço cedido pela Câmara Municipal nem sempre conseguir manter os animais que estão ao seu encargo nas condições que gostariam por falta de espaço. De forma certa e clara que voltar a colocar os animais na rua não é uma opção.
Quando questionada se a Câmara Municipal demonstrou apoio à associação, a Marisa Henriques garante que os membros da Câmara entendem a importância dos Patinhas e Patudos e a sua necessidade para combater o abandono de animais na cidade. Por outro lado, admite-se que a legislação no sentido de que “os animais não são especialmente protegidos nem são a principal prioridade”.
Após perceber que a entrevistada estava familiarizada com a associação, questionei a mesma se existia alguma história emblemática que aconteceu e que gostaria de contar. Marisa Henriques, então partilhou a história de dois dos seus 3 cães que se aprofundaram na associação Patinhas e Patudos e que foram encontrados em situações muito precárias e ambas com poucas chances de vida.
A cadela Luz, esteve numa clínica de tratamentos e foi encontrada num abrigo com 5 bebés, que já foram todos adotados. Veio para a casa da Marisa, inicialmente como família de acolhimento temporário, porem acabou por a adotar. Confessou ainda “foi a primeira cadela que tive em muitos anos, há muito tempo que não tinha, e mudou a minha vida, como quase toda a gente que adota um animal sente no fundo”. A outra cadelinha chama-se Dory e foi encontrada atropelada com um traumatismo craniano e não conseguia se mover durante algum tempo e tinha uma visibilidade muito reduzida. A Dory fez um trabalho de estimulação mental para que o cérebro voltasse a funcionar como o normal. A entrevistada comentou que todo esse processo foi muito marcante “principalmente quando somos nós que acompanhamos esse cão de perto e vemos esses pequenos avanços todos os dias, é gratificante, é mesmo muito gratificante”.
Para concluir Marisa Henriques faz um apelo a todos para combater o abandono animal, que é necessário que haja uma maior conscientização para que as pessoas entendam que deixar um animal desprotegido é uma atitude imoral, e que, nos dias de hoje, é crime. No fundo a mesma tem o desejo que todos os amigos de quatro patas sejam coletados por famílias que os amem “espero que todos eles encontrem uma casa entretanto, que é para isso que estamos aqui”.