Com a guerra na Ucrânia a completar 2 anos, completam-se também dois anos de atrocidades, mortes, julgamentos, violência e dramas humanitários. Ao longo deste conflito destacam-se duas personalidades muito relevantes e com fortes ligações ao Presidente Russo.
A primeira é Alexei Navalny, que faleceu no dia 16 de fevereiro, numa prisão do Círculo Polar Ártico, aos 47 anos. Navalny foi líder da oposição russa e denunciou diversos casos de corrupção que se passavam no Kremlin, chegando a concorrer a cargos eleitorais com a promessa de reformas anticorrupção. Insurgiu-se contra a governação de Putin que perdura à 23 anos, se tivermos em conta os anos em que exerceu o cargo de primeiro-ministro. O facto de ir contra o homem mais poderoso da Federação Russa, faz com que muitos acreditem que a tentativa de envenenamento que sofreu no verão de 2020 tenha sido obra de Vladimir Putin. Isto porque aconteceu durante um voo que Alexei Navalny fazia entre Tomsk (Sibéria) e Moscovo. Perante o envenenamento, o avião acabou por ser desviado para Omsk, a oeste da Sibéria, onde Navalny ficou internado num hospital, em estado de coma. Seguiu, depois, para a Alemanha onde o governo confirmou envenenamento por Novichok, um veneno desenvolvido pela União Soviética entre 1971-1993. Trata-se de um conjunto de agentes nervosos dos mais mortíferos que existem e apesar da Rússia garantir que já não o produz, em 2018 a então primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, disse que um destes agentes foi utilizado para aniquilar Sergei e Yulia Skripal (ex-oficial russo que trabalhava para os serviços de inteligência ingleses).
Esta não foi, por isso, a primeira vez em que o Kremlin tentou matar os opositores do regime. No caso de Navalny, após recuperar na Alemanha regressou à capital russa, onde foi novamente preso por ter violado as condições da pena condicional anterior. A partir daí o líder da oposição russa estava preso e eram raras as vezes em que era apanhado pelos meios de comunicação social, até porque em dezembro do ano passado desapareceu do estabelecimento prisional onde cumpria pena, para voltar a ser visto 3 semanas depois numa prisão de alta segurança na Sibéria, onde morreu.
Desde então que as causas da sua morte estão envoltas num enorme secretismo, tal como o paradeiro do seu corpo. No último vídeo publicado pela mãe de Navalny, esta informou que viu o corpo do filho na morgue da cidade de Salekhard, no Ártico, e exigiu que este fosse entregue à família. A mãe refere mesmo que está a ser chantageada para que as cerimónias fúnebres do filho ocorram secretamente. De acordo com o JN as autoridades russas pretendem avançar com um funeral secreto e sem momentos para despedidas.
Relativamente às causas da morte do ativista russo, estas ainda não são totalmente conhecidas, embora o jornal The Times garanta que Alexei Navalny tenha sido morto com um “murro no coração” depois de ter estado exposto a temperaturas negativas durante várias horas. Segundo o jornal britânico, a manobra utilizada para colocar termo à vida de Navalny é tipicamente usada pelos agentes especiais do KGB.
A segunda personalidade a destacar-se é Yevgeny Prigozhin, um famoso oligarca russo muito próximo de Vladimir Putin, conhecido como o cozinheiro de Putin, por ter sido o responsável das empresas que forneciam serviços ao Kremlin. A verdade é que Prigozhin começou a controlar importantes empresas russas que não pertenciam ao ramo alimentar, sendo a mais relevante a empresa de mercenários russos, Grupo Wagner, fundada em 2014 e relacionada com o Ministério da Defesa Russo. Este grupo é formado sobretudo por ex-prisioneiros que ao juntarem-se podem ver as suas penas absolvidas depois de cumprirem 6 meses de combate no grupo Wagner. De referir que o livro “Eu, Marat, Ex-Comandante do Grupo Wagner – No Coração do Exército Secreto de Vladimir Putin” retrata a intensa e violenta dinâmica destes homens. É da autoria de Marat Gabidullin com Veronika Dorman e Ksenia Bolchakova.
Assim, o grupo Wagner trata-se de uma empresa militar, supostamente, privada que surgiu para apoiar o exército da Rússia, inicialmente na guerra do Donbass. Depois desta guerra seguiram muitas outras, uma vez que este grupo atua também em África e noutras regiões promovendo a agenda russa e o seu líder, bem como demonstrando apoio ao regime de Bashar al-Assad na Síria. Os mercenários ganharam mais espaço mediático ao participar na guerra da Ucrânia, e pelas atrocidades muito violentas cometidas. Prigozhin era visto como o principal motor da invasão da Ucrânia, até ter comandado uma rebelião contra Moscovo, em junho de 2023, que apesar de ter terminado em menos de 24 horas foi a maior ameaça ao reino de Putin.
Este motim foi levado a cabo sobretudo pelas críticas feitas por Prigozhin ao Ministério da Defesa da Rússia, que deixou o grupo Wagner sem munições, fazendo com que a tese de que este era um grupo de mercenários privado caísse por terra. Contudo, depois da tentativa de tomar a capital russa, o Kremlin e o chefe dos Wagner chegaram a um acordo, que permitiu a Prigozhin ir para África, onde chegou a divulgar um vídeo e onde os mercenários também combatiam. Desde então que as aparições públicas do antigo cozinheiro de Putin ficaram cada vez mais escassas, até que a aeronave em que Prigozhin seguia juntamente com mais 10 pessoas caiu na região de Tver (cidade russa), matando todos os tripulantes. O avião que fazia o trajeto entre Moscovo e São Petersburgo, acabou por matar Prigozhin e o seu principal aliado Dmitry Utkin. No discurso de condolências à família, Putin referiu que Prigozhin tinha cometido graves erros ao longo da sua vida, mas que também procurou alcançar os resultados necessários. De acordo com a BBC News a agência de informação russa FSB é a mais provável responsável pela queda da aeronave.
Tanto Alexei Navalny como Yevgeny Prigozhin, tornaram-se opositores de Putin e ambos acabaram por morrer em circunstâncias duvidosas. Existem muitas outras pessoas que morreram por tentar enfrentar Putin, tal como narra o livro “Assassino no Kremlin” do jornalista John Sweeney.