[Texto de Adriana Ferreira e Mateus Carvalho]
Foi no dia 4 de dezembro de 2023 que o bebé Santiago marcou o ponto de viragem na vida de Adriana Pinto e do marido Marco de Sousa. O casal de Sandim, município de Vila Nova de Gaia, foi diagnosticado com infertilidade idiopática, ou inexplicada. Este tipo de condição significa que não há uma causa clara que leve à infertilidade, uma vez que o sistema reprodutor de ambos funciona sem qualquer problema aparente. Perante esses resultados, a primeira opção passou pela realização de tratamentos, no entanto, Adriana Pinto, enfermeira e parteira de profissão, confessa que não passava pelos melhores momentos durante esse processo. “Sentia-me mal pela medicação que tinha que fazer, era relacionada com progesterona, sentia vómitos, cólicas, mudanças de humor, irritabilidade.” O processo de adoção e o apoio da Fundação Gil Em 2015, decidiram-se pelo processo de adoção. O casal começou a entrar em contacto com a Fundação do Gil em Alvalade, Lisboa. A instituição opera desde 1999 e tem o objetivo de proteger e promover o bem estar social de crianças que se encontram em risco social e também clínico. A reinserção das crianças numa nova família é o caminho que a parteira do hospital São Sebastião decidiu proceder. “O processo de adoção foi muito longo”, apesar de Adriana declarar que, mesmo sem filhos, ambos estavam tranquilos no decorrer das suas vidas. O Santiago “não veio preencher nenhum vazio”, mas sim acrescentar algo melhor à vida de Adriana . “Parece que temos recebido sinais, não sei, de Deus, do universo, que ele já foi nosso, de uma vida passada. Ele teve uma adaptação excelente aqui em casa, ele não estranha nada” descreve Adriana a sua ligação com Santiago.“Fizemos um brainstorming com quatro ou cinco casais” começa por explicar Adriana, “colocaram-nos em, situações diferentes e verificavam de que forma reagimos a essas situações, por exemplo ter em conta a bagagem emocional que a criança traz e passar por essa dificuldade de lidar com uma nova personalidade, porque muitas das crianças vêm com traumas, abandonadas”.Depois, continua, “foram mostrados vídeos de casais que contavam as suas experiências com crianças, descrevendo situações positivas e negativas, com o objetivo de mostrar que ter um filho não é sempre um mar de rosas e os pais têm de estar preparados para esta realidade”. Durante os testes, o casal teve de ultrapassar talvez a pergunta mais complexa, explicar ao Santiago a forma como chegou à família, caso ele pergunte sobre o seu background. “Teremos o apoio das assistentes ao nosso lado, caso seja necessário. Atualmente, já nos ajudam a lidar com essa situação pouco a pouco. Preferimos que ele saiba por nós do que por alguém de fora “, conta o pai adotivo. Certa vez, quando Santiago adoeceu teve apoio da Instituição Fundação do Gil com necessidades imediatas. Comprou todos os medicamentos que o bebé necessitava para recuperar, assim como fraldas, roupa e brinquedos novos. O quotidiano de Santiago na nova família Atualmente, o bebé mantém uma boa relação com as orientadoras, que trabalham na instituição que o acolheu desde o momento em que saiu do hospital, visto que o menino nunca morou em casa dos pais biológicos ou de algum familiar. O casal tem um álbum de fotografias, onde se retratam os vários momentos marcantes da vida da criança, desde o seu nascimento, “para ele perceber que, também, não entramos logo na vida dele, que estava noutro local, inicialmente, com outras pessoas”, explica Adriana. Outro aspeto mencionado pela mãe adotiva de Santiago é que, apesar de ela e o marido terem acesso a documentos escritos com informação sobre os pais biológicos da criança, estes não têm acesso a nenhuma informação dos adotivos, devido aos direitos de escolha do filho, pois ele pode, no futuro, querer, ou não, “conhecer as suas raízes”. A bagagem emocional de um filho adotivo é, também, considerada com cautela, com o acompanhamento de psicólogos e apoio social. “Como já estávamos bem como casal, decidimos ter uma criança pequena, porque se fosse mesmo para ter, era para criá-la desde pequenina e crescer com ela, se não, estaríamos a criar os nossos sobrinhos ou afilhados”, referencia a enfermeira. A introdução de um novo membro na família, especialmente uma criança com pouco mais de um ano, é algo que rompe com rotinas e que obriga a ter novas responsabilidades. “Eu costumo dizer que a minha vida mudou 180 graus, e a do meu marido também”, fala Adriana sobre o dia-a-dia antes de se tornar mãe. “Éramos um casal sem rotinas, comíamos às horas que queríamos, íamos ao cinema quando queríamos, se tivéssemos de dormir fora, dormíamos, e agora não, agora o Santiago tem uma rotina, para comer, para dormir”. Menciona também o facto de se terem de adaptar à personalidade de Santiago, assim como ele se tem de adaptar à dos pais. Como enfermeira especializada em saúde materna e obstetrícia, e como alguém rodeada de casais com filhos bebés, Adriana tem bastante conhecimento sobre crianças e sabe que “há dias melhores e outros piores”, assim como reconhece que cuidar de uma criança é muito mais difícil na prática do que na teoria, porém, é algo “feito com amor”.
Adriana Ferreira, Mateus Carvalho