“A liberdade não se escreve sem jornalismo”: foi sob este mote que os jornalistas e outros civis de Coimbra saíram à rua no dia 14 de março. A praça 8 de Maio, no coração da cidade, foi o local de encontro dos profissionais para dar início ao protesto. A precariedade do setor, os salários baixos, as condições de trabalho degradantes e a carência de apoios por parte das forças políticas foram os pilares essenciais que moveram esta luta.
A greve iniciou-se com a partilha das convicções ligadas à causa defendidas pelos presentes, entre as quais o papel do jornalismo enquanto parte da democracia e um direito cívico. Foi também referido que um dos constrangimentos à prática jornalística na atualidade é a pressão exercida pelos grandes grupos económicos, que leva a que os profissionais deixem de cumprir a sua missão – partilhar a realidade. No caso de Coimbra, foi apontada a falta de espaço físico para os jornalistas trabalharem, devido ao encerramento das redações.
A concentração contou também com professores e estudantes que se fizeram acompanhar de cartazes, nos quais estavam mensagens como “E nós? Temos futuro?” e “Procura-se condições de trabalho dignas”. No entanto, o que mais se destacou foi a faixa branca carregada pelos jornalistas, na qual se podia ler “Jornalismo é essencial à DEMOCRACIA”.
A presença dos jovens alunos assinalou a solidariedade para com a classe jornalística e a sua preocupação com o seu futuro na área. De acordo com Francisco Barata, estudante do mestrado de Jornalismo e Comunicação na Universidade de Coimbra, o que mais o preocupa e aos seus colegas é a dificuldade em descobrir qual é “o passo a seguir” após concluído o curso. Acrescentou que o maior obstáculo em exercer esta profissão é a obtenção de um “contrato permanente”, considerando “privilegiados” os que o conquistam.
Apesar do clima chuvoso, a adesão à concentração conimbricense surpreendeu de modo positivo alguns profissionais da área. “Eu sabia que estaria muita gente, mas está ainda mais”, realçou Simão Freitas, jornalista da agência Lusa e dirigente do Sindicato dos Jornalistas. Alexandra Barata, jornalista freelancer, correspondente do Jornal de Notícias (JN) e colaboradora do jornal de Leiria partilhou a mesma satisfação ao ver “tanta gente”, visto que as suas expectativas “eram mais baixas”.
Após 40 anos de silêncio, sem nenhuma greve como esta, Simão Freitas admitiu que a greve terá valido a pena pelas “concentrações dos camaradas que se encontram” e com a presença dos meios de comunicação universitários, em apoio à causa. “Enche mesmo o coração”, revelou o dirigente. O profissional frisou também que os jornalistas não vão continuar a aceitar as condições atuais de trabalho, pois “não são dignas” e que “ir à rua” para sensibilizar a sociedade civil é a melhor forma de lutar. Na mesma ótica, Alexandra Barata realçou que é essencial que as pessoas deixem de ver os jornalistas, somente como profissionais, e passem a encará-los “como pessoas”.
A precariedade do setor foi também um dos pontos frisados pelos manifestantes que, segundo a freelancer, se deve à falta de pessoas nas redações que se tornam “cada vez mais curtas” e aos “salários baixos”. A correspondente do JN explicou ainda que muitos jornalistas que estão a entrar no mundo do trabalho acabam por se sujeitar a trabalhos com condições “precárias” de modo a “preservar a sua posição” no posto.
“Um ato de paixão, resistência e missão de luta por um país livre”: são estas as peças-chave que descrevem o que é ser, nos dias de hoje, um jornalista em Portugal, sublinha Simão Freitas. A concentração viu o seu fim antes do meio-dia. O jornalista anunciou que o Sindicato dos Jornalistas, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social e a organização do protesto vão “fazer cumprir a greve junto das forças políticas”, a partir de dia 15 de março.