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Uma crónica sobre singularidade

mafaldarsilvabymafaldarsilva
June 18, 2024
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Desde que me lembro, sempre fui alvo dos tradicionais debates sobre a quem a minha aparência melhor se assemelhava. As opiniões dividiam-se entre aqueles que acreditavam eu ser a ‘cara chapada’ da minha mãe e os que insistiam na similaridade entre os meus traços e os do meu pai. As longas discussões com a minha mãe terminavam repetidamente com a típica expressão: “Tens o feitio do teu pai!” e nas trocas de argumentos desentendidos com o meu pai, a intenção da frase pouco se alterava: “És igualzinha à tua mãe!”.

Nunca fazia muito caso destas comparações, mas intrigava-me como poderiam tantas pessoas ver rostos tão distintos nas minhas feições. A constante divergência de opiniões sobre a minha aparência era, na verdade, um reflexo de algo mais profundo e, de certa forma, a minha identidade aos poucos se esculpia através das perceções daqueles que me rodeavam. A certo ponto, assolou-me a ideia de que a singularidade não existisse verdadeiramente: afinal, seria eu apenas um puzzle cujas peças pertenciam a cada uma das pessoas que um dia tinham feito parte da minha vida?

A primeira vez que me deparei com este pensamento foi num momento um tanto aleatório. Costumo dizer que o meu cérebro está numa constante e incessante sinfonia de ideias e por isso, é comum que pensamentos aleatórios surjam – não me lembro exatamente do ponto de partida, mas, por alguma razão, constatei que todos os meus traços de personalidade, sonhos e hobbies eram, na verdade, os exatos traços, sonhos e hobbies das pessoas mais próximas a mim.

Cresci muito próxima da minha prima mais velha e, provavelmente estimulado pela distância de idades, sempre a vi como um modelo a seguir. Reconheço que a minha paixão por literatura surgiu das ocasiões em que lhe observava a estante apinhada de livros e dos momentos em que a acompanhava, silenciosa e atenta, durante as suas leituras. Adoro viajar – não fosse ela a mais aficionada amante de viagens que conheço. Aprendi também muitas das minhas receitas de culinária favoritas ao cozinhar com ela (nem o gosto pela gastronomia me escapou; nem os gostos musicais).

Reflito e percebo também que os meus sonhos não são exclusivamente meus, mas sim partilhados e influenciados por alguém que outrora dividiu uma vida comigo e já não está presente. Incomoda-me e, por instantes, sinto a necessidade de me desapegar desses desejos, que no fundo, acreditava eu, não me pertenciam. Neste estágio de reflexão, a minha dúvida aumenta, ao mesmo tempo que me preocupa e me impede – de forma dramática – (de quem será que herdei tal traço?)  de acreditar que sou alguém com uma personalidade própria e não apenas uma cópia de outra pessoa.

Curiosamente, há uma explicação para toda esta teoria. No campo da sociologia, este fenómeno é explicado por George Mead na teoria da socialização que defende que a nossa autoimagem é construída com base na interação com os outros e que o “eu” é um produto social, ou seja, cada indivíduo que pela nossa vida passa, deixa uma marca e adiciona uma peça única ao puzzle da nossa identidade.

Com o tempo fui me conformando à ideia e comecei a apreciá-la a partir de outra perspetiva, desta vez um pouco mais otimista. Cada livro que li, cada traço de personalidade, cada lugar que visitei, cada sonho que nutri – todos esses momentos, vividos inicialmente através de outra pessoa, são agora parte integrante de quem sou. E essa constatação, longe de ser um fardo, é um tributo à riqueza das nossas interações humanas. A singularidade não está na ausência de influências, mas na maneira única como cada indivíduo as integra e manifesta.

Sou um produto da minha mãe, do meu pai, dos meus avós e tios, dos meus ex-namorados, amigos e conhecidos. Sou “igualzinha” à minha mãe, herdei o traço sentimentalista dela e o formato dos olhos protuberantes. Sou igualmente idêntica ao meu pai, herdei o seu temperamento ponderado e formato arredondado do seu nariz. Reconheço que os meus traços – sejam eles psicológicos ou físicos – embora possam não ser exclusivamente meus na sua origem, tornaram-se meus ao longo do tempo. Abraço assim a complexidade da minha identidade e celebro a diversidade das influências que me moldaram. E, no final das contas, essa mistura não singular, faz de mim uma pessoa singular.

Mafalda Silva
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