A tenista profissional brasileira, Carolina Meligeni Alves, expressou motivação para esta entrevista após um voo para um novo torneio, dado que acredita mais do que nunca, que graças à sua garra, ajustes e apoio incondicional, o melhor ainda está por vir na sua carreira e a sua chama permanece acesa na modalidade.
Carolina Meligeni Rodrigues Alves, tenista profissional brasileira de 27 anos, natural de Campinas, outrora classificada como número 165 do mundo, mais conhecida como Carol Meligeni no Brasil, tem treinado arduamente na sua base de treinos de confiança em Itajaí, na Academia de Ténis ADK.
A escolha do ténis como carreira profissional é um percurso difícil e dispendioso, mas Carolina muito decidida do que queria desde tenra idade, confessa que ser oriunda de uma família tradicional no ténis tornou este procedimento natural, graças ao contacto muito próximo que tinha, sendo nomeadamente sobrinha de um ex-tenista profissional – Fernando Meligeni e filha de pais ambos treinadores da modalidade – Paula Meligeni e Flávio Alves. Além disto, explicita, por sua vez, “quando consegui pegar na raquete pela primeira vez” seria a melhor forma de clarificar quando se iniciou na modalidade no seu clube natal, Ténis Clube de Campinas, apesar de acreditar que terá sido por volta dos 5 anos.
“Foi amor à primeira vista na verdade, eu poderia ter escolhido qualquer outra coisa, mas eu sempre desde pequenina gostei muito”, defende a tenista, que apesar das diversas referências familiares no desporto, planeia continuar a fazer a sua própria história na modalidade, tal como o seu irmão mais novo, Felipe Meligeni Alves, também tenista profissional.
Quanto a ídolos, Carolina confidencia que se identifica na forma de jogar, pensar e se comportar em campo com o seu tio – Fernando Meligeni, dada a sua irreverência, autenticidade e garra, o que a faz sentir uma enorme admiração, tentando assim trazer estas características para a sua vida e para o jogo. Ainda no seu núcleo familiar, cita que “as coisas nunca vieram de mão beijada, sempre teve muito esforço e trabalho por trás”, de modo a valorizar a luta e sonho por parte dos seus pais que possibilitaram tanto a ela, como ao seu irmão se tornarem jogadores profissionais, não obstante das adversidades financeiras impostas pelo desporto, tendo como exemplo principal a quantidade horária de treinos por dia dada pela sua mãe – “uma mulher guerreira, uma mulher que tem claro o que ela quer e os objetivos, uma mulher que sonha também com a família”, orgulha-se a jogadora.
Na mudança marcante para o Uruguai aos 15 anos para treinar duas vezes por dia, Carolina admite que na época não sentiu tantas dificuldades devido ao quão certeira estava relativamente ao seu sonho futuro no ténis e à oportunidade que lhe tinha surgido. No entanto, teve de terminar os dois últimos anos da escola à distância – online e estava consciente de que estava a deixar muita coisa para trás, especialmente todas as pessoas que amava e as festas com as suas amigas. Por outro lado, na atualidade revela que “o ténis ensina mesmo … acaba te endurecendo nesta questão emocional” e está ciente do tempo que não passou com os seus pais e com a sua avó, uma senhora já de idade, mas acredita que estes também tomaram decisões na vida para viverem o seu sonho, o que a reconforta e a faz encarar tudo isto com naturalidade.
Ao recuar no tempo até aos seus primeiros torneios ITF (International Tennis Federation) Júnior, descreve que tem boas memórias, melhorou o seu inglês e fazia bons resultados, tendo jogado todos os Grand Slams Júniores, exceto o Australian Open. Contudo, o seu primeiro título foi num torneio no Paraguai em que ganhou na vertente de singulares e pares. Mas como chegou Carolina até aqui? A tenista brasileira conta então uma história caricata entre si e o seu treinador uruguaio, onde estava a ser desafiada com uma brincadeira antes de viajar, na qual se a jovem não ganhasse o torneio mesmo sendo a favorita, não voltaria a treinar com a equipa, o que incrivelmente adveio numa semana com um resultado estupendo.
A nível de torneios ITF Profissionais, a jogadora recorda o seu primeiro torneio profissional em Santos no Brasil, torneio de 10.000$, no qual conseguiu a sua primeira vitória no circuito profissional e denotou como maiores diferenças enfrentar jogadoras mais experientes, deixar de ser a favorita a vencer o encontro e, por vezes, não ser respeitada como boa jogadora e ter de lidar com a situação, algo que contrastava com os juniores.
“Acredito muito que você tem de treinar com uma pessoa que você possa confiar plenamente, para que essa pessoa possa exercer o trabalho dela”, sublinha Carolina, em forma de elogio ao desempenho do seu treinador Luiz Peniza que a conhece desde pequena e à satisfação com a sua base de treinos de confiança em Itajaí, que conta com o seu preparador físico, fisioterapeuta e nutricionista, onde a jogadora realmente se sente em casa e mentalmente reconectada.
A decisão específica da adversária mais complicada que a jogadora brasileira enfrentou até à data é complexa, todavia Beatriz Haddad Maia, do Brasil e Rebecca Marino, do Canadá são menções fortes para Carolina Meligeni Alves, que relembra jogos duros e uma rivalidade boa desde cedo com a tenista brasileira, ex-número 10 do mundo e já diante da tenista canadiana, ex-número 38 do mundo são recordados jogos longos e físicos durante os Campeonatos Pan-Americanos. Em contrapartida, cita Dominika Cibulkova, da Eslováquia como a melhor jogadora que já enfrentou, dado que a mesma é ex-número 4 do mundo.
“Poucas vezes na minha vida eu já pensei em desistir … é sempre um pensamento vítima daquele momento … eu acho que desistir é muito mais fácil do que encarar todos os problemas”, afirma Carolina relativamente aos pensamentos negativos sobre desistir do ténis, mostrando o seu carácter destemido perante os obstáculos.
“Eu acredito muito que eu posso ser top-100 e é por isso que acordo todos os dias, se eu não achasse que eu poderia ser melhor do que o meu melhor ranking até agora, eu acho que não faria sentido, eu acredito muito que eu posso ser muito melhor jogadora”, frisa a atual terceira melhor jogadora do Brasil num tom de entusiasmo.
No tema relacionado a torneios em Portugal, a descrição do ambiente e da atmosfera sentidos por parte da tenista são de positividade e um sentimento de como se estivesse a jogar em casa, descrevendo-se assim num diálogo de contentamento a gastronomia sublime, as amizades próximas com jogadoras, tal como com Francisca Jorge e Matilde Jorge e até mesmo fãs que apoiam, apesar da sua preferência por competir em terra batida e não em piso duro rápido, mais comum em Portugal, o que nem sempre compatibiliza o seu regresso ao país luso.
No que concerne a polémicas pelas quais a tenista brasileira já atravessou, nomeadamente o seu impedimento de embarcar no aeroporto para alguns torneios durante a pandemia sem razão aparente, faz uma reflexão mais ponderada e embora ainda se considere injustiçada na época, considera que expunha demasiado a sua vida e sentia-se em apuros com o ocorrido, ainda que compreendesse que o passaporte brasileiro trazia sempre o número de mortes dos infetados alicerçado, daí o impedimento de entrada em outros países. Ademais, relativamente a outro tópico polémico debatido no desporto que são os gritos emitidos por parte dos jogadores e jogadoras durante o encontro, a tenista brasileira admite que muitos veem como “um jogo de gritaria”, porém esta quando joga constata que estes sons são meramente um componente adicional à concentração e auxiliam a soltar o ar, até porque a mesma diz estar ciente de que é uma jogadora barulhenta, no entanto julga que na hora da verdade ninguém percebe e isto pode ser apenas um entretenimento para o espetadores.
O sonho é o que o comanda o jogador, Carolina Meligeni Alves aponta que fora da modalidade o seu maior sonho é ser mãe, uma vez que para ela está muito claro desde sempre que é algo que realmente deseja. De outro ângulo, como qualquer outro jogador, o sonho na modalidade é melhorar a cada dia e voltar aos Grand Slams, pois ainda não está satisfeita com o que alcançou e só no fim da sua carreira é que será possível analisar tudo o que conquistou.
“Eu quero até ao fim do ano voltar ao meu melhor ranking anterior … estar entre 200, 180 por aí”, expecta a tenista brasileira, que considera estar a jogar suficientemente bem para retornar a isso nesta temporada de 2024.
A carregar a bandeira do Brasil, a desportista demonstra um orgulho imenso por já ter representado o seu país na Billie Jean King Cup e nos Campeonatos Pan-Americanos, o que encara como um privilégio e uma missão maior, dado que está a lutar pelo seu país e canaliza ainda mais garra para esse fim. Além disso, acredita que por ser tenista profissional teve a grande oportunidade de viajar e conhecer novos países – 39, enquanto trabalha e faz o que gosta, o que a levou a conhecer múltiplas culturas inesperadas, entre as quais o Egito, Tunísia e a cidade de Pamukkale, na Turquia sobre a qual reflete ter lido um livro de filosofia histórica tempos depois de ter lá estado e acabou surpreendida por já ter visitado esta cidade.
Ao abordar a experiência em torneios WTA (Women’s Tennis Association), torneios mais bem remunerados, nos quais jogam as melhores jogadoras do mundo, Meligeni Alves desvenda as inúmeras diferenças sentidas, tal como o nível das adversárias, as condições dos clubes, o tratamento das jogadoras e o prize money recebido, ainda que inferior ao masculino, é superior ao dos torneios ITF, que nem sempre têm uma organização tão coesa.
A tenista de 27 anos reconhece que ao longo da sua carreira melhorou no aspeto das superstições e o seu último título em Platja D’Aro, Espanha, num torneio de 25,000$ é muito importante para si, visto que atualmente foca-se apenas nas rotinas relevantes, enquanto antes, por exemplo, durante o dia tomava banho no mesmo lugar, comia e bebia a mesma quantidade, controlava o número de goles de água e colocava a toalha no mesmo lugar durante todo o encontro, o que não era tão positivo para si.
Quanto a curiosidades sobre os seus traços de personalidade, define-se como autêntica, divertida, engraçada e direta. Embora Carolina goste muito de cantar, tocar e cozinhar, se não fosse tenista profissional acredita que teria uma profissão relacionada com arquitetura, design de interiores ou psicologia. Adicionalmente, verbaliza que sente dificuldades em cumprir uma alimentação tão regrada com o seu nutricionista, isto é, o mais difícil é ter a consciência de que come para se nutrir e não para sentir prazer, pois gostaria de comer em maior quantidade e de cozinhar sempre o que realmente lhe apetece e não uma salada, por exemplo. Posto isto, neste momento não se vê no futuro como treinadora de outro(a) jogador(a), visto que sabe o quão trabalhoso e duro é viajar durante todo o ano e estar longe dos que ama, mas mesmo assim, deixa uma porta entreaberta para que o futuro se encarregue de decidir acerca desse aspeto.
“Faz o que seu treinador está mandando … se doa mais para a pessoa, confia em alguém, seja menos cabeça dura, porque isso vai te levar menos tempo, menos deceção … se cobre menos, curta mais o caminho sem se preocupar tanto na reta final”, reforça a tenista num tom moralizador e engraçado, de modo a concluir com este conselho para si mesma no passado e para todos que lutam pelo sonho.